06/09/2015

Flush do Arcano XV #Final

Olá meus amigos... Antes de mais nada, gostaria de dizer que eu estou adorando escrever este conto, e alias muito feliz pela repercussão dele. Aqui termina a saga de Kriminel, se você não leu as demais parte, corra la e veja, juro que foi feito com muito carinho e que vocês não irão se arrepender. Tem alguma duvida, comentário, critica qualquer coisa quer mandar um oi pra gente da Confraria do Medo? 

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 Naquele momento, enquanto o corpo inerte do velho jazia sem vida, Kriminel já havia adormecido nos braços de sua esposa, ele havia negado a libertinagem, não pois era um ativista da monogamia, obvio que não, mas naquele lugar ele havia julgado que era perigoso demais, queria se livrar dos abutres que o caçavam de forma incessante.

Dormia de forma conturbada, agitado, sendo vítima de pesadelos sem fim, suando e se retorcendo, balbuciando coisas que sua esposa e agora também sua filha não conseguem entender, e tentam em vão acordá-lo.

Em seu pesadelo, Jonathan está em um corredor com parca luz vinda de pequenos lustres que pendem do teto, iluminando as paredes enfeitadas com tons dourados e negros, e seus pés descalços sentem o confortável toque de um lindo carpete azul. O corredor era extenso e enigmático, continha diversas portas, mas como Kriminel pode reparar em nenhuma havia dobradiças, apenas fechaduras, mas nenhuma chave, e a caminhada era enorme, penosa pela confusão, e demora muito para que o magnata chegasse ao seu fim, somente para constatar que la no fim havia apenas uma pequena mesa com cartas sobre a mesma, de início Kriminel achou se tratar de um baralho comum de jogo, mas logo que ele se aproxima o suficiente ele pode perceber tratar-se de um baralho de Tarô.

Todas as cartas estavam alinhadas lado a lado, como um morador de Nova Orleans, logo Kriminel pode perceber que se trata de apenas os arcanos maiores, em ordem do Louco ate o Mundo, ele se demora em analisar, primeiro de forma ampla vendo todas as cartas e depois observando se não havia nenhuma mensagem em seus versos,  ele pega uma por uma, observa as figuras, mas demora muito para entender um detalhe, que para um conhecedor superficial, é um detalhe muito pequeno, Kriminel sabe que são vinte e dois Arcanos maiores, e ele conta cada um, e logo percebe que ali existem vinte e uma cartas, ele passa a tentar ver qual era a carta que faltava.

Estavam todas ali, exceto pelo décimo quinto… O Diabo não estava entre aquelas cartas e ao constatar isso, logo um grande ruido começa e Kriminel desperta.

Ao meio da tarde quando a maioria das pessoas a bordo do Hiero começam a despertar, com suas ressacas e dores das diversas orgias. O barco atraca em um cais de uma vila ribeirinha, como era conhecimento de todos, o cassino havia disponibilizado uma cota para o ganhador de um concurso realizado na paróquia desse vilarejo, isso para dar ao evento um ar de beneficência, e a entrada tardia do ganhador era apenas para que esse possa ter alguma chance de sair dali com alguma coisa, tudo para amenizar a consciência dos milionários a bordo, já que todos imaginam que essa pessoa não passará de um bobo da corte para diversão, e como a cota dele lhe garante um montante em aposta, nada muito significativo se comparado às apostas dos magnatas, e pela lógica se o homem manter sua boca fechada e sua ganância sobre controle, ele poderá aceitar as apostas iniciais e deixar a mesa saindo com pouco menos do que começou, isso por si só já era o suficiente para mudar a vida de um pequeno agricultor ou de um operário das minas de carvão.

Eis que chega a hora de conhecer o sortudo, a maioria das pessoas do barco se aglomeram perto da ponte de embarque, para ver quem é o palhaço que lhes divertirá o resto do cruzeiro, enquanto outros, o que inclui Kriminel que ainda está um pouco abalado pelo pesadelo, ao qual se recorda com perfeição, estas pessoas dão a mínima para essa interrupção tão fútil do torneio.

O homem que aparece é um rapaz que não deve ter muito mais do que trinta anos, cabelos longos e revoltos, um terno dominical, sapatos surrados mas muito bem limpos, sem chapéu ou gravata, usando a camisa aberta ate o meio do peito, dando ao homem um ar casual como se ele fosse encontrar velhos amigos depois da missa de domingo. Ostenta um sorriso largo cheio de dentes, grata e estranha surpresa, todos brancos e bem limpos, mas suas mãos ásperas e rudes denunciam seu trabalho pesado, talvez no campo. O que mais surpreende é que ele chama a atenção imediata das “damas” do navio, pois sua beleza era ímpar, nem muito másculo nem afeminado. Ele atravessa o convés, dialogando com desenvoltura com as pessoas, ate algumas pessoas começam a questionar a integridade do tal sorteio, mas algumas gafes e palavreados gentio, além das marcas do trabalho pesado, fazem esses conspiradores perderem credito, o homem parece dissimular o caminho ate Kriminel, que estava distraído no bar, quando o magnata estava se preparando para sair do balcão tromba com o já não tão especial plebeu.

_Me perdoe senhor, estava apenas tentando chegar ao bar para saciar a sede.

_Tome mais cuidado garoto… Ah você deve ser o jogador da cota do vilarejo, correto?

_Sim senhor, muita sorte minha, meu nome é Malcon, Malcon Maine, prazer.

Kriminel resignado aperta a mão do plebeu. _Sou Jonathan Kriminel, já ouviu falar?_ Kriminel estranha, mas já sente certa afeição pelo jovem.

_Claro… Ate o Diabo conhece o seu nome senhor… Agora se me der Licença, realmente tenho sede, e me disseram que a bebida no barco é por conta da casa.

Kriminel não responde, estava estático com as palavras do homem, apenas acena a cabeça e segue seu caminho ate as mesas dos jogos.

A partir daquele ponto, Kriminel passa a vencer de forma assustadora todos seus rivais, e aposta após aposta, mesa após mesa, Kriminel vai escrevendo sua história no poker, aquele torneio estava ganho, ate o magnata sempre tão arrogante e confiante, passa a ficar surpreso com as suas vitórias, chega a esquecer completamente aquele sonho, e rapidamente acumula o suficiente para não haver mais oponentes.

De outro lado Malcon o plebeu, caminha, com alguns tropeços, mas muitas vitórias geniais, ele vai desbancando cada um, passando de plebeu a milionário em apenas alguns jogos, ele vai traçando seu caminho ate o momento em que se senta apenas ele e o magnata Jonathan Kriminel, frente a frente Kriminel fala.

_Malcon correto? Que surpresa, acho que agora também lhe chamo de senhor… Congratulações meu jovem, se estiver interessado, tenho uma proposta para você, lógico se você deixar essa ideia de Poker de lado.

_Desculpa senhor Kriminel, mas sou muitas coisas, menos desonesto, na verdade eu jamais menti… Então eu recuso, quero ir ate o fim.

Kriminel da de ombros e faz uma careta de trágico, e logo eles começam.

Todos estão rodeando a mesa, mas a organização do torneio colocou um cordão para isolar os participantes. A esposa e a filha do magnata estão olhando e sorrindo da cena, seria interessante ver Jonathan dar fim a ganância e a arrogância daquele plebeu. E como era de se esperar, Kriminel ganha facilmente, várias mãos, uma após a outra… ate que o jovem Malcon em uma rodada de desespero desafia Kriminel em “All In”, logicamente o magnata aceita… E perde… Agora Malcon estava ocupando mais confortavelmente seu acento, cruza as pernas e sorri para Kriminel, este se enfurece com tamanha ousadia e crava seus olhos furiosos em Malcon… Ele perde mais uma… E outra… Sete vezes e suas apostas mínguam a medida que as de Malcon se engrandecem… as roupas de Jonathan se ensopam de suor, e ele passa a fumar um cigarro atrás de outro, ate começar a tossir muito. Ao mesmo tempo que Malcon fica ainda mais sorridente sem tirar os olhos do velho a sua frente… E ele perde mais uma… Muitas… Tudo.

Quando os organizadores começam a se preparar para encerrar as apostas e declará o agora multimilionário Malcon vencedor, Kriminel já todo acabado, com as roupas frouxas se levanta em um pulo e esbraveja.

_NÃO! NUNCA! Não vou perder para um rato… vou apostar mais, aposto metade de minhas propriedades… Tragam-me minhas escrituras… AGORA!!!

Como Kriminel sempre levava os documentos originais consigo, pois confiava somente nele mesmo, logo as escrituras de suas terras estavam em mãos, ele separa metade e coloca sobre a mesa. Malcon em silêncio ate então sorridente responde, analisando-as e separando o equivalente em fichas da mesa do lado, pois eram tantas que não cabiam mais naquela em que se sentava.

_Aceito de bom grado senhor!

Diante disso os organizadores mesmo demonstrando muito nervosismo não podem recusar, eram as regras do poker.

E o magnata sofre com uma mão miserável, sua mente trabalha rápida e logo ele calcula que suas posses todas somam mais do que tudo que Malcon tem ali, e ao se ver encurralado ele desafia um blefe, agora a cara compenetrada e inexpressiva, que é uma regra básica do jogo, já não faz o menor sentido, e usando de dissimulação ele explode em gargalhada e joga todos os documentos sobre a mesa verde gritando “All In”, o jovem apenas levanta os braços como fez Pôncio Pilatos e coloca tudo que tem aceitando o desafio… Diante dos dois pares de reis de Kriminel, Malcon exibe uma quadra de ases… Kriminel deseja gritar em protesto, era roubo sem dúvida, mas os juízes do jogo já estavam prevendo essa reação e estão com as mãos em seus coldres, fazendo Kriminel baixar os ombros e derramar lágrimas, por algum tempo ele fica assim com a cara enfiada em suas mãos, pois havia perdido tudo… quase tudo, em um delírio ele levanta sua carranca despenteada e olhando nos olhos de Malcon ele fala em tom baixo e derrotado.

_Ainda me falta uma aposta… _ Ele aponta para sua esposa, ela era mestiça de francesa, uma beldade das terras da Luisiana, muito mais jovem que seu esposo que agora lhe joga como aposta, ela fica imovel, não consegue crer no que estava acontecendo.

_Não… Muito pouco velho… Aceito as duas!_ Malcon se referia a jovem filha do casal, uma linda garotinha de dez verões, que estava aos soluços vendo o que o pai estava fazendo. Este que de início pensa, não conseguia mensurar a ganância do homem a sua frente… Mas sem saída ele aceita, tenta lhe convencer que era o melhor, já que agora ele estava miserável, ao menos, mesmo se elas fossem escravas de Malcon, ele poderia dar um prato de comida por dia para elas… Aceita por fim… E perde.

_Levem as duas para minha cabine… Vou me juntar a elas quando acabar com esse velho a minha frente._ Kriminel estava em choque, sequer ouve os gritos das duas que eram arrastadas pelos corredores do Hiero, nem que a maioria dos tripulantes do navio agora agiam de forma como se hipnotizadas, seguindo cada ordem de Malcon.

_Mais alguma aposta senhor Kriminel?

_Sim… Eu aposto minha alma contra tudo que você tem… Aceita?

_Com o maior prazer…

O crupiê que estava tão assustado que tremia, mal conseguindo embaralhar, deixando as cartas caírem duas vezes, mas Malcon passa a mão nas mãos do adolescente que para de tremer de imediato, voltando a destreza habitual e distribuindo as cartas. A mão segue em silêncio completo, ate a última rodada, já que não havia aposta, era um “All In”. Jonathan custa a focar no jogo, demorando a entender sua mão… e quando ele percebe mal pode crer, ele havia conseguido, uma quadra de asses, ele olha para seu nêmesis e mostra a mão…

_Sabe senhor Kriminel… Sabe por que estou aqui? Por que sua alma foi posta a prêmio, porém ela não pertencia aquele que a colocou… Sua alma sempre foi minha, sempre, você sou eu e eu sou você e juntos somos um… Sabe onde estava a carta do arcano XV? Aqui na sua frente… Sou o Diabo e o Diabo é o melhor de você… Então eu ganhei, novamente eu tenho você novamente… Antes que alguém viesse eu vim!

Malkuth revela sua mão… Um Straigh Royal Flush… e em um frenesis implacável, as pessoas do Barco se lançam sobre Kriminel, e o seguram, enquanto uma pessoa vem ostentando um machado, e com esse, as pernas do derrotado são separadas, ainda vivo, ele pode ver o machado descer para decepar-lhe a cabeça. Malkuth então se levanta calmo e começa a seguir para sua cabine, para gozar de seus outros prêmios, quando o organizador ensanguentado lhe interrompe.

_Senhor, o que fazemos com o corpo?

_Jogue no Mississípi, lá ele deve repousar!

_Antes de ir senhor, deve assinar estes papéis das escrituras.

Então Malkuth, saca uma caneta tinteiro do casaco no corpo de Kriminel e usa seu sangue para enchê-la, depois assina em cada documento o nome Arcano XV.


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