15/09/2015

A Ilusão do XVIII Arcano.

Ola meus amigos, sentem-se confortavelmente, este conto é curto mas intenso, e pertence a serie de contos sobre os Arcanos maiores do Tarô. Realmente espero que gostem, deixem suas opiniões em nossa Pagina do Facebook (Blog Maldição!)

Tenham uma boa noite!





O teatro estava cheio, murmurinho das pessoas contrastando com a intensa chuva que caia do lado de fora, e de tempos em tempos um raio cortava os céus, trazendo consigo o barulho surdo do trovão. Enquanto todos tomam seus assentos, um único ator já estava sentado em uma pedra na floresta armada como cenário, muito bem-feito o cenário, as pessoas comentavam, era tudo bem realista, certamente algumas árvores de verdade foram colocadas ali.
O ator impassível ignora todos ali, apenas olhava fixamente para a névoa que era bombeada para o palco, e assim ele fica, ate que todos ficassem absolutamente em silêncio, ele havia comprado a atenção da plateia com sua inercia. É quando ele olha para todos, agora podiam ver claramente o vigoroso homem que era, tinha não menos que um metro e noventa, cabelos longos revoltos e loiros, trazia em suas enormes mãos, machadinhas, um guerreiro lembrava os Vikings.

Mas a análise era quebrada por sua poderosa voz.

_A Lua pendura-se como um pêndulo cruel e estático.
Ao sabor da canção dos ventos as árvores dançam.
Enquanto esta tragédia se inicia com o coração de vidro quebrado.
E o pesadelo da hora morta, esmagando os sonhos…

Ele para e olha para a plateia estática, tudo estava diferente, alguns franzindo a testa, eles haviam deixado suas casas aconchegantes para ver uma versão nova de Romeu e Julieta, aquilo não tinha nada a ver com a peça do dramaturgo inglês.

_Mas sem lágrimas por favor.
Pois o medo e a dor andam de mãos dadas com a morte.
Mas este é o desejo que traz vocês aqui esta noite.
E é isso que veremos… Agora.


Ele desperta suado em sua cama, os lençóis molhados, mais um pesadelo com aquela mulher, mais um sonho destruído e mais lágrimas derramadas. Ele em desespero enquanto o relógio da igreja soa pela janela, três badaladas, meio da madrugada, ele estava confuso, perdido em amor. E o mais cômico disso é que ele sempre havia desejado este destino, um poeta em uma época em que os poetas não significam mais nada, Byron, Goethe, Chateaubriand e Alfred de Musset agora não são mais nada além de sombras, e mesmo assim ele teima em tentar reviver aquela atmosfera lúgubre que era tão comum a poucos anos atrás, ele hoje sente-se um retardatário e agora sofre imensamente pelo amor de uma jovem, que talvez, ignore ate mesmo sua existência.
_Lenora, ah minha Lenora… Este triste coração é prestes a se tornar chamas.

Ele a comparava as deusas antigas, seus longos cabelos ruivos, suas gentis curvas e seu ar eloquente, elegante e graciosa, agora o poeta se consome e lágrimas, enquanto a garrafa de absinto ia se esvaindo, pegando sua caneta e seus papéis ele começa a rascunhar.

_Tem um fogo dentro deste coração revoltado prestes a explodir em chamas
Onde está o seu Deus? Onde está o seu Deus?

Mas ele é interrompido, o vilarejo que a esta hora já deveria estar completamente envolto em sonhos, agora grita, e estes gritos chegam ate o poeta que sente uma ponta em sua cabeça, ele que vivia as margens das grandes cidades, evitando Paris ou Londres a qualquer custo, pois assim sentia-se mais próximo da força criadora primordial e estes lugares atrasados eram perfeitos para pessoas como ele, enquanto seus trabalhos vendiam o suficiente para que ele leve a vida dessa forma, experimentando. Ele cria coragem e chegando ate a porta da estalagem a visão turva era um tanto sombria, ele se sentia diante uma cena daqueles contos irritantes que surgiam o tempo todo naquele tempo, como os trabalhos de Oscar Wild e Stoker, aldeões em frenesis com tochas gritando pela carne carbonizada da bruxa.

Quando ele pergunta ao taverneiro este apenas responde, puxando o poeta para dentro.

_Isso é assunto deles, deixe que resolvam… Eles querem ver aquela mulher morta, Lenora.

A noticia atravessou o pobre poeta como uma lança e ele escancara a porta novamente fazendo o taverneiro bufar, mas sem dar importância, ele atravessa a multidão que caminhava rumo a mata gritando “morte a Bruxa”, e mesmo depois de ter que estapear um vilão para poder passar ele corre na frente daqueles animais.

A noite estava clara pela gorda lua cheia que brilhava mais do que o normal, mas isso não diminuía o desespero do poeta que corre como um lunático, só para chegar tarde demais. Ele vê três homens se recompondo, ajustando suas calças e rindo sem parar, atrás dele estava sua amada, jogada no chão nevado, havia sangue manchando a neve pura, ele tenta investir, mas aos socos e pontapés ele também cai ao lado de sua musa.

_Deixem-no ai… Amantes de bruxas merecem o destino que procuram…

Então eles deixam que os dois amantes morram juntos, mas não antes de que o poeta se lembre, aqueles três homens, são clérigos que cuidam da vila, homens de Deus… Ela havia sido estuprada ate agonizar para a morte e deixada nua na neve para que o frio apague sua chama de vida. O poeta lhe segura a mão enquanto ela tem seus últimos instantes de vida, uma lágrima rola pela face e congela antes de chegar ao solo.

Ele sente vontade de gritar, amaldiçoar Deus por sua crueldade, mas não consegue com um maxilar quebrado, tudo que ele faz é sussurrar.

_Ela tinha me jurado votos de sangue fragrante… "Nunca nos separaremos
A menos que o céu invejoso tenha roubado nossos corações"

Ele chorava e repetia baixinho.

_Volte para mim, minha Eleonor, nasci apaixonado por ti… Então como pode o destino se entrepor a nós?

E amaldiçoando tudo ele clama por ajuda, reza a Deus e ao Diabo, mas ninguém o ouviria mais, ate que seus olhos suplicantes se volvessem para a lua que gentilmente brilhou, e diante do corpo sem vida da dama amada, surge vestida de prata uma mulher, jovem, bela como tem de ser e lhe fala.

_Posso dar-lhe este alento… Mas saiba que isso lhe amalçoaria pela eternidade, sem descanso e sem alento!

O Poeta louco, agora se levantando com muita dificuldade, se apoiando no cedro gigante que se erguia ao seu lado, sem folhas mas vivo como ninguém mais ali estava, ele responde com seus ossos doendo.

_Ja estou assim fadado bela dama, minha alma não mais me importa.

_Que assim seja galante ser da noite, e amanhã, quando minha face alcançar a abóboda do céu, você terá sua vingança!

Ela fala apontando para algo que brilhava na neve, e ele ao pegar percebe se tratar da chave da igreja.

Quando a outra noite chega, ao longe o sino da igreja toca, eles lamentariam pela morte da Bruxa e clamar a Deus para que seus pecados tenham sido remedidos diante da luz, claro que os três sacerdotes omitiram os fatos, o estupro e a surra em um poeta, diziam ser o frio da noite a acabar com as profanações daquela alma maligna, e enquanto os ritos se estendiam, a fumaça começa a tomar o templo, e os louvores se tornaram gritos de desespero, que ficaram mais fortes quando a grande porta se fechou e o barulho da fechadura ecoou por toda a igreja… Ali todos queimaram pelos seus pecados, e ali a igreja virou uma tumba.

De cima de um telhado, a bizarra forma de uma criatura híbrida, cuja as feições lembram os lobos, servos leais a lua, mas seu porte era de um humano, porém maior, mais terrível, e ele ainda segurando as chaves em sua mão esquerda, uiva sem parar regojizando de sua obra.

E mais uma vez o poeta desperta, em sua cama, em outro continente e em outro corpo, mas o suor é o mesmo e a lua que olhava para ele também, ele então se enrola em seu roupão, pega sua caneta e papeis, senta-se iluminado por uma vela e escreve.

“Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado, “

















O ator volta ao palco, com um longo e respeitoso curvar de sua coluna diante aquela plateia que estava pasmada e assustada ele fala.

_Assim termina nosso drama, enquanto a lua se despede… Mas lembrem-se as ilusões que ela lança sempre iram vencer a mente sã!




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